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A máfia da ciência

Fazer ciência é como construir casas. Não acredita? Então continue a ler. Imagine que decidia construir uma casa. Comprava todos os materiais. Punha mãos à obra. Mas quando a casa ficava completa dava-a a outra pessoa que a vendia e ficava com o dinheiro. Injusto? Mas isto é exactamente o que acontece com a ciência produzida em todo o mundo.

A ciência é um mundo estranho. Mas neste caso, estranho é pouco. A palavra adequada será irracional, ou até chocante. Provavelmente já ouviu falar em publicações científicas, onde são publicados os avanços mais recentes da ciência mundial. Estas publicações são constituídas por artigos, cada um dos quais o resultado de anos pesquisa científica, normalmente envolvendo equipas extensas de cientistas. Ora, tudo isto tem grandes custos associados que são normalmente pagos por instituições governamentais e privadas. Mas quando um projecto científico tem resultados positivos, e chega a altura de publicar os resultados, todas as atenções se voltam para as editoras de jornais científicos. E é aqui que o caldo se entorna.

Existem hoje em dia milhares de revistas científicas, o que é provavelmente um atestado ao facto de serem autênticas máquinas de fazer dinheiro. Quando um artigo chega a uma revista científica há casos em que o autor já teve de pagar uma taxa de cerca de 20€ só para o trabalho ser revisto. Repare-se aqui no insólito. O autor teve de pagar a uma entidade que até ali nada teve a ver com o trabalho, somente para esta o rever.

Mas isto é só o princípio. Depois de chegada à revista o artigo cientifico é sujeito a uma revisão por outros cientistas com experiencia na área mas sem envolvimento no trabalho. O que é importante dizer é que todos estes revisores são voluntários e por isso não têm qualquer custo associado. Em seguida há duas possibilidades ou o artigo é aceite ou rejeitado. Se for rejeitado os autores terão de tentar a sua sorte com outro jornal científico. Se for aceite o artigo é publicado, com a particularidade de os autores terem de passar todos direitos de autor para a revista cientifica que passa a sim a ser “dona” do artigo. Assim já era mau, mas o pior vem a seguir.

Depois de publicado o artigo não fica disponível para quem o quiser consultar. Apenas quem pagar, uma quantia que pode rondar os 40€, por artigo, pode aceder à informação. Isto, e tendo em conta que uma das regras da publicação cientifica é que cada artigo pode apenas se publicado uma vez, é grave. Ou melhor, é gravíssimo. Primeiro porque com este modelo as editoras estão a fazer dinheiro com um produto em que não investiram minimamente. Segundo porque com este modelo apenas tem acesso ao conhecimento quem tem dinheiro, muito dinheiro. As Universidades portuguesas por exemplo tem grandes dificuldades em aceder às revistas científicas mais importantes e sem elas é impossível fazer ciência de qualidade pois não se tem acesso ao que já foi feito e ao que presentemente é conhecido. Sem ciência é difícil haver desenvolvimento e sem desenvolvimento as não passam da proverbial “cepa torta”. Está na altura de endireitar a ciência.